Conta Nuno Santos, director de programas da SIC, que as quotas de publicidade do novo programa que a estação se estreia esta noite estavam totalmente preenchidas em poucos dias. Mesmo em tempo de crise a afirmação faz sentido, se se explicar de que programa estamos a falar. Chama-se Portugal Tem Talento, é o formato nacional do original britânico que, desde 2006, já se espalhou por mais de 30 países no mundo e revelou talentos como a britânica Susan Boyle. É com este trunfo que se abrem as hostilidades da programação televisiva em Portugal para 2011. Num ano em que a SIC, terceira em audiências, garante que haverá uma viragem no panorama televisivo há seis anos dominado pela TVI.
"Você tem um sonho, nós damos o palco", diz o lema do programa, produzido pela Fremantle (Ídolos e Achas Que Sabes Dançar) e apresentado por Bárbara Guimarães, que mostra talentos do parkour ao disco dance, avaliados pelo júri composto pelo encenador Ricardo Pais, Conceição Lino e José Diogo Quintela.
"É o primeiro evento do ano televisivo e queremos que seja uma marca do nosso percurso em 2011", diz Nuno Santos. "É um programa muito ligado a uma linha de feel good TV", diz o responsável pela programação do canal de Carnaxide. E arrisca vaticinar: "A SIC vai crescer em 2011, não temos sobre isso qualquer dúvida. Mas precisamos de encaixar todas as peças do puzzle. Esta é apenas a primeira."
As declarações de Nuno Santos vêm na linha das avançadas por Júlia Pinheiro, agora de regresso à SIC, de onde saíra em 2002, e por Luís Marques, director-geral da estação, que afirmaram já estar crentes de que o mercado, dominado pela TVI desde 2005, vai mudar.
"Eu gostava de achar que o modelo dominado pelas novelas da TVI estaria a acabar, gostava muito, mas tenho sérias dúvidas", confessa Jorge Mourinha, critico do televisão do PÚBLICO. E vê a SIC a clonar o caminho traçado pela TVI. "A SIC também tem ido muito neste caminho, embora não com tanto sucesso", lembra, frisando as transferências de actores de ficção nacional entre TVI e SIC, anunciadas nos últimos tempos, com destaque para o actor residente da TVI Rogério Samora, que decidiu mudar-se para Carnaxide. Nuno Santos confirma que os actores da SIC são já quase 20. "Mesmo assim metade dos da TVI", afirma.
"Não há muita volta a dar. Uma estação privada tem de prestar contas aos accionistas. Estamos numa espécie de era da reciclagem, isto até fica bem numa altura em que se fala tanto de economia verde", defende Jorge Mourinha, referindo-se não só à ficção, como à aposta em modelos já muito experimentados como os de caça-talentos - Ídolos, Achas Que Sabes Dançar e agora Portugal Tem Talento ou Operação Triunfo da RTP. "E a TVI já prepara o regresso de Uma Canção para Ti."
Sobre fórmulas largamente testadas a SIC prepara ainda, para o terceiro trimestre, a versão portuguesa do concurso Biggest Loser, com o nome de Peso Certo para Portugal, onde quilos perdidos são dinheiro ganho. O concurso, cujo original passa actualmente na SIC Mulher, terá como anfitriã outra grande aposta da estação: Júlia Pinheiro.
"Tudo funciona segundo o prisma das audiências: se resultou com a TVI , porque não há-de resultar com a SIC?", adianta Mourinha sobre o caminho agora traçado pela estação de Carnaxide. Pelo caminho fica o serviço público de televisão com um lugar que Jorge Mourinha não descreve como confortável: "A RTP fica mal no meio disto tudo, uma vez que não tem nem a capacidade financeira para chegar a estes programas, nem pode, porque tem de cumprir o serviço público. Tem apostado na ficção fora das telenovelas, o que é bom, apesar da qualidade e das audiências não serem grande coisa", diz o crítico. Já este fim-de-semana a RTP lançou um novo trunfo. Chama-se Maternidade e é uma série de médicos, protagonizada por Lúcia Moniz. Mas a grande aposta (ainda sem data) é a mini-série Mistérios de Lisboa, versão do filme produzido por Paulo Branco e realizado pelo chileno Raul Ruiz, premiado com a Concha de Prata no Festival de San Sebastian. "A RTP aposta na ficção de uma forma diferenciada das privadas", disse José Fragoso. "Estamos fora do mercado das novelas desde 2008." E o humor será outra das apostas, com a continuação de Herman José nas noites de sábado e a substituição do Lado B de Bruno Nogueira por outro formato de humor também ainda não confirmado: "Recebemos permanentemente projectos de vários humoristas."
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