Os espectadores nortenhos revelam maior índice de satisfação face à programação televisiva em horário nobre. Braga, Aveiro e Bragança são os distritos que melhor consubstanciam esta realidade, demonstrada a partir de uma sondagem nacional.
Também as regiões autónomas da Madeira e dos Açores registam um grau de contentamento acentuado. A seguir, surgem o Porto, Viana do Castelo e Viseu.
Antagonicamente, em Leiria, Coimbra, Beja e Faro verifica-se a insatisfação mais flagrante (ver mapa). Segundo José Rebelo, coordenador do "Estudo de Recepção dos Meios de Comunicação Social", encetado pelo o Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em parceria com a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), "há múltiplas razões justificativas".
Mas a região Norte e os arquipélagos parecem apenas ser sintomáticos de uma tendência generalizada. Afinal, as pessoas mostram satisfação relativamente aos programas, contrariamente ao que se presume ser uma opinião pública - quase homógenea - depreciativa face aos conteúdos veiculados no pequeno ecrã.
"Não fiquei surpreendido", disse Rebelo. "Existe a rotina da televisão e não quiseram entrar em contradição com as suas práticas". Por outro lado, "há uma parte que responde como julga conveniente o que nem sempre está associado ao que pensa", frisou. Tem ainda de se ter em conta a diferença entre o conceito de satisfação, que é algo activo e denota envolvimento, com o de aceitação, sinal de passividade. "São pressupostos distintos que o estudo não tem condições para interpretar".
Rebelo explicou que as entrevistas foram realizadas de forma pessoal e directa, pelo que a amostragem, traduzida em 2205 inquéritos, é mais reduzida , do que se os contactos tivessem sido feitos via telefone. Porém, este método intensivo e aprofundado traz uma vantagem: "A mobilização e atenção do inquirido é muito superior", sendo que, por outro lado, "evita uma distorção". No entanto, "ao desagregar os resultados por distrito é preciso relativizar as percentagens", salvaguardou.
Posto isto, importa, pois, ter consideração que "as respostas são parciais" e esgotam-se "num volume pequeno", o que não nos permite retirar ilacções "muito sólidas e apoiadas", alertou. Não obstante, "nas ilhas grande parte da população, para ter acesso à SIC e à TVI precisa recorrer ao cabo", logo, proporcionalmente ao Continente, recebem mais canais, o que poderá legitimar o aprazimento constatado.
Outro dado curioso é que perante a pergunta aberta "o que seria preciso para melhorar a televisão?", em terceiro lugar, com 19,3%, surge "reduzir/acabar com as telenovelas" (ver gráfico). Ora, numa primeira leitura, não deixa de ser estranho, quando este tipo de produtos é aquele que consegue captar audiências mais significativas. Aparentemente, é paradoxal. Acontece que só respondeu quem, à priori, manifestou desagrado com as grelhas televisivas.
"A maior parte das sugestões vem contra-corrente, sobretudo dos sectores críticos minoritários, que contrariam o que é a tendência", elucidou José Rebelo. Quanto a um eventual perfil deste grupo, o responsável indicou que "os inquiridos mais jovens revelam algum nível de insatisfação", mas são desinteressados e mobilizam-se pouco. "Estão-se nas tintas", sintetizou. Por sua vez, pessoas mais velhas, entre os 30 e os 50 anos de idade, com formação superior, constituem a fatia que mais reservas efectivas apresenta.